BELA VISTA DE GOIÁS — Um crime chocante abalou o distrito de Roselândia, em Bela Vista de Goiás, na noite do último sábado (1º). Carlos Teles Vieira, produtor de soja de 47 anos, assassinou o dono de bar José Carlos Pereira Sampaio, de 57, em um ato que, segundo a família do acusado, seria uma vingança por um estupro ocorrido em 1996. O caso veio à tona após um relato emocional da filha de Carlos, confirmado pelo advogado da família, Reginaldo Ferreira Adorno Filho, que atestou a autenticidade do texto divulgado.

O passado que ressurgiu
No depoimento nas redes sociais, a filha de Carlos descreve que, em agosto de 1996, sua mãe, então com 14 anos e namorada do acusado (que tinha 17 na época), teria sido estuprada por José Carlos, conhecido como “Zezin”. O crime, segundo o relato, foi seguido de humilhação pública: o acusado teria espalhado na comunidade que o ato foi consensual. “Minha mãe engravidou, mas não havia condições de fazer teste de DNA naquela época. Meu pai carregou esse peso por quase três décadas”, escreveu.

A família afirma que o trauma nunca foi superado. “Zezin destruiu a vida deles. Meu pai sempre viveu com ódio e dor”, acrescentou a jovem, que não teve o nome divulgado.

A noite do crime
No sábado, após um dia intenso de trabalho, Carlos voltou para casa ansioso. De acordo com o relato, ele tomou remédios para dormir e cinco latas de cerveja, mas não conseguiu alívio. Por volta das 22h, pegou uma arma registrada em seu nome e saiu de casa, pedindo desculpas à esposa. “Ela implorou para ele não fazer besteira. No dia seguinte, a polícia bateu à nossa porta”, descreveu a filha.

Segundo a Polícia Militar de Goiás, Carlos estacionou uma camionete branca próximo ao Bar Não Tem Dia, localizado em frente à praça de Roselândia, e entrou no estabelecimento usando óculos. Testemunhas relataram que ele efetuou disparos contra José Carlos, dono do bar, e em seguida fez mais dois tiros para o alto antes de fugir. O Corpo de Bombeiros confirmou a morte da vítima no local.

Investigação e repercussão
A arma do crime, registrada legalmente, está sob custódia da polícia. Carlos Teles Vieira é o principal suspeito e segue foragido, segundo fontes da investigação. O advogado Reginaldo Adorno Filho reforçou que o texto da filha do acusado “revela uma história de dor represada por quase 30 anos” e que a defesa trabalhará para contextualizar os motivos do crime.

Moradores de Roselândia, comunidade rural com menos de 3 mil habitantes, estão em choque. “Todo mundo conhecia a história antiga, mas ninguém imaginava que terminaria assim”, disse um vizinho que preferiu não se identificar.

Justiça ou vingança?
O caso reacende debates sobre impunidade e trauma não resolvido. Enquanto a polícia busca Carlos, a pergunta que ecoa na região é: o crime foi um ato de justiça ou vingança? Para a família do acusado, a resposta está nas cicatrizes de 1996. Já para a Justiça, o homicídio é um novo capítulo a ser julgado.

Com informações da Polícia Militar de Goiás e do advogado Reginaldo Ferreira Adorno Filho.